A pergunta que eu mais recebo em particular nas minhas redes sociais é “Jessica estou precisando de um norte para direcionar meus estudos na área x, consegue me ajudar?”. Como ela acontece com certa frequência decidi tentar ajudar a respondê-la aqui.

Como todas os demais questionamentos na área de tecnologia, a resposta pra essa pergunta é: depende! E já pra começar com clichês, eu não vou te dar o peixe, eu vou te ensinar a pescar 😉


Neste artigo, vou usar como exemplo a área em que trabalhei muitos anos e que sempre é mencionada nos pedidos de ajuda que recebo: a Ciência de Dados, mas saiba que é possível abstrair essa lógica e aplicar os mesmos passos para outros tipos de cargos e áreas, principalmente em tecnologia.

Por mais que você queira trabalhar com ciência de dados, os requisitos para cientistas variam de empresa para empresa e não existe uma receita de bolo que vá servir para todo mundo, afinal de contas, como diz mainha: “Você não é todo mundo”. E por um lado isso é ótimo, pois te dá uma liberdade para trilhar um caminho diferente dos demais, mas ao mesmo tempo levanta a inevitável pergunta: “O que eu preciso focar/ter no meu currículo para ser considerada pra uma vaga?”.

E aí que entra o pulo do gato, se você não tem uma empresa dos sonhos em que você quer trabalhar, você vai precisar se organizar para um processo seletivo que não é unificado. Diferentemente de concurso ou vestibulares que os requisitos são conhecidos e expostos para todos, vagas de emprego e principalmente vagas para grandes empresas não são iguais só por que o cargo tem o mesmo nome. Inclusive, ouso dizer que dentro da mesma empresas, um mesmo cargo para times diferentes podem esperar de você capacidades diferentes, então vamos ver como descobrir um caminho no meio de um matagal.

Ler esse post e colocar ele em prática não vai te garantir um emprego, mas os passos que eu mostro aqui devem te ensinar a desenhar o seu currículo de forma que ele apresente as ferramentas mais interessantes dentre as milhares tecnologias pedidas pelas empresas. Pra isso você vai precisar de 3 coisas:

  1. Acesso à internet
  2. Uma conta no LinkedIn
  3. Um software para planilhas

Se você está lendo esse post provavelmente você já está usando o item 1. Com uma base de usuários crescente eu imagino que você já possua sua conta no LinkedIn, caso você ainda não tenha uma conta no LinkedIn e não queira criar uma, você vai ter mais trabalho para coletar os dados que vamos precisar e, já aviso de antemão, que eu vou me apoiar bastante no uso do LinkedIn. Por fim, vamos usar um software de planilhas e aqui eu escolhi o Google Sheets, mas sinta-se a vontade para usar o software de sua preferência.

Coleta de dados

Eu gosto de encarar o primeiro passo como a coleta de dados, esses dados tem como objetivo responder uma pergunta bem clara “Qual conjunto de ferramentas e habilidades devo focar nos próximos meses para construir meu portfólio?”.

Para começar abra o LinkedIn, abaixo você a minha página inicial. Ao centro, você vê a caixa para começar um novo post e o comecinho de um post do Data Bootcamp que foi curtido por pessoas na minha rede. A esquerda você vê o meu perfil com algumas estatísticas, a direita sugestões de tópicos para seguir, mas o nosso foco vai ser na barra superior.

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É na barra de mais acima da página que você encontra o campo de busca do LinkedIn, é nessa parte onde você deve inserir os termos de busca como por exemplo empresas que você tem interesse, tópicos/hashtags sobre assuntos para você acompanhar, ofertas de vagas disponíveis e pessoas para se conectar, tente me achar por exemplo, digite “Jessica Temporal” e aperte enter para ver se eu apareço na lista de pessoas sugeridas.

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Outra parte interessante é a aba de “Jobs”. Nessa aba você tem uma pesquisa específica para vagas anunciadas na plataforma. Você pode fazer uma pesquisa tão ampla ou tão específica quanto queira, vamos ver como fazer isto a seguir. Além disso, também é possível criar notificações para uma busca, assim, novas vagas que surgirem com os filtros escolhidos chegam para você por e-mail.

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Agora que você já conhece um pouco da interface vamos fazer a primeira busca, suponha que você quer ser cientista de dados, mas quer trabalhar na cidade de São Paulo. Na primeira caixa você deve preencher o cargo ou termo de pesquisa (não clique nas opções da lista que vai aparecer ainda) e na segunda caixa digite a cidade de interesse e clique em “Search” ou “Buscar” se o seu LinkedIn estiver em Português.

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Ao clicar em buscar, a página irá recarregar e mostrar uma lista de vagas para aquela região, veja:

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E se você notar, logo abaixo da barra de pesquisa, temos filtros. São esses filtros que vamos usar para achar dez vagas de cientista de dados para tentar responder a nossa pergunta inicial.

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A primeira coisa que vou fazer vai ser escolher algumas empresas, para isso use o filtro “Company” ou “Empresa”, e vou selecionar algumas empresas, aqui selecionei apenas algumas empresas Brasileiras e depois de selecionar todas as que tenho interesse cliquei em “Show results” ou “Mostrar resultado”:

Depois de recarregar a página você vai ver uma lista filtrada de cargos disponíveis:

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Cada vaga possui pelo menos 3 elementos:

  1. Uma descrição da empresa;
  2. Uma lista de responsabilidades para a vaga;
  3. Uma lista de habilidades desejadas também chamada de requisitos.

É essa lista de habilidades que você vai precisar focar, abaixo você vê os requisitos para três vagas de cientista de dados para três empresas diferentes:



Requisitos da vaga "Cientista de Dados Júnior" no PicPay




Requisitos da vaga "Cientista de dados" no Itaú




Requisitos da vaga "Cientista de dados" no iFood

Como você pode notar, não existe um padrão de divisão ou organização das habilidades, cada empresa escreve essas informações da maneira que lhe é mais interessante.

Além de buscar por um termo e uma cidade, você deve ir refinando a sua busca, às vezes você precisará trocar um termo por outro para obter resultados mais interessantes, por exemplo, experimente procurar Data Scientist ao invés de Cientista de Dados. Algumas empresas mesmo sendo Brasileiras colocam seus cargos e anúncios de vaga em Inglês, por isso, pequenos ajustes de termos, podem te trazer mais vagas interessantes.

Organizando os dados coletados

Agora que você já tem uma coleção de vagas, chegou a hora de arregaçar as mangas e colocar as informações num formato fácil de identificar nossa jornada de estudo.

Para isso eu criei uma planilha onde colei as descrições das seções de requisitos de cada vaga que achei interessante. Eu coloquei uma coluna para cada informação: Título da vaga, empresa de onde peguei a vaga, os requisitos, as habilidades que são consideradas um diferencial e por fim o link da vaga. E organizando assim fica mais fácil do que passear entre 10 abas no navegador 😉

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Essa é a minha base de informações, mas concorda que ainda não está fácil de visualizar as as habilidades mais importantes? Então vamos estruturar nossos dados. Para isso eu criei uma nova aba na minha planilha e fui manualmente criando uma coluna para cada empresa e transformando o texto em uma lista de habilidades, por exemplo, a vaga da Stone abaixo:



Requisitos da vaga "Data Scientists (Conta Stone)" na Stone

Virou essa coluna na minha planilha:

Note que eu também incluí as “habilidades desejáveis”, aquelas que apresentam um diferencial para a vaga, provavelmente essa ferramentas já são parte do conjunto da empresa e você vai encontrá-las no seu dia-a-dia.

Depois de transformar a descrição das vagas num dado colunar eu recomendo que você padronize algumas entradas, por exemplo, eu coloquei todas as letras em minúsculo e troquei alguns termos, por exemplo “versionamento de código” e “github” viraram apenas “git”, isso vai deixar as suas informações mais fáceis de agregar.

Respondendo a Pergunta

Agora para contar tudo isso nós vamos fazer uma tabela dinâmica ou pivot table. Para facilitar a criação dessa tabela, eu colei numa nova aba da planilha todas as habilidades de cada das empresas em uma única coluna, que chamei de “Habilidades” e fiquei com uma coluna de 99 linhas com repetições, veja as últimas linhas da minha coluna resultante:

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Tendo feito isso você conseguirá criar uma tabela que vai apresentar a frequência de cada habilidade ou ferramenta no nosso conjunto de vagas. Para criar uma tabela dinâmica no Google Sheets você deve selecionar “Tabela dinâmica” no menu “Dados”:
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Ao clicar em tabela dinâmica vai aparecer a janelinha abaixo na sua planilha, onde você pode ajustar o intervalo de dados, no meu caso, eu estou escolhendo todas as linhas da coluna A da aba “Habilidades” para criar a minha tabela. Eu também selecionei “inserir em nova página” para criar a tabela numa nova aba da planilha e evitar a sobrescrita da minha resultante.
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E ao clicar em “Criar”, como esperado, uma nova aba aparece:
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Note que a nossa tabela ainda está em branco. Isso acontece porque nós precisamos configurar os dados a serem calculados. Então clique numa célula da tabela para que o menu de edição da tabela dinâmica apareça:
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Agora a primeira coisa que vamos fazer vai ser adicionar os termos disponíveis na minha aba de Habilidades como entradas da tabela dinâmica, para isso clique no adicionar da seção “Linhas” e selecione “Habilidades”:

Com isso os termos na nossa lista aparecem na tabela já sem repetição.

Agora você precisa adicionar a frequência de aparecimento de cada termo. Para adionar a frequência clique em “Adicionar” na seção de “Valores”, e escolha mais uma vez “Habilidades”, e para ficar mais interessante selecione “% do total geral” no campo “Mostrar como”:

Para finalizar, seria bom ordenar as habilidades pela frequência em que aparecem, já que imaginamos que as habilidades e ferramentas mais utilizadas vão aparecer mais vezes, então para ordenar, volte para seção “Linhas” e no campo “Classificar por” você vai poder escolher a coluna que contém as frequências que se chama “COUNTA de Habilidades” e automaticamente a tabela se organiza:

Pronto! Agora você tem uma lista das habilidades que precisa desenvolver e ferramentas que precisa aprender!

De acordo com o nosso pequeno conjunto de dados de 10 vagas de empresas Brasileiras que contratam a cientistas de dados, essas são as 15 ferramentas que você precisa ter no no seu currículo.

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Recapitulando

Saber tudo isso é uma garantia de emprego na área? Não, mas estudar as ferramentas que você encotrar usando este passo-a-passo vai te ajudar a construir um portfólio bem prático de habilidades que as empresas estão procurando em pessoas para as suas vaga.

Um outro ponto chave se você está mudando de área ou de empresa, é criar um espaço onde você demonstra as suas habilidades. A Lele Portella tem uma palestra incrível de como fazer isso disponível no YouTube da Python Brasil, e eu recomendo que você leia esse artigo sobre ter um blog também da Lele.

Vale salientar que o conjunto de vagas deste artigo é pequeno pois tem apenas o objetivo de ensinar a fazer esse levantamento de informações. Eu recomendo que você faça uma coleta maior de dados antes de tirar conclusões.

Como você deve ter notado, é um trabalho bem manual e que poderíamos automatizar grande parte dele, mas isso é assunto pra outro artigo 😜

Por fim, espero que este artigo possa te ajudar a escolher um norte para chegar até o seu próximo emprego. Se tiver dúvidas deixa ali na caixinha de comentários no final do artigo 😉